v. 11 n. 1 (2024): Edição 2024

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Prezados Leitores:

Impregnados de júbilo e alegria por ocasião do ano 2024 que acaba de se iniciar, com esperanças renovadas nos caminhos que a humanidade poderá vir a trilhar, os Editores da Revista Eletrônica Acta Sapientia comemoram a 1ª década de existência desse relevante veículo de divulgação científica do Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior (POLEDUC) e anunciam o Volume 11 de 2024.

Hipátia de Alexandria

Por ocasião dessa efeméride, a capa rende tributos àquela considerada como a primeira mulher matemática: Hipátia de Alexandria (também conhecida como Hipácia ou Hypatia). Nascida no século IV no Egito, por volta de 355 d. C., período de declínio do Império Romano, Hipátia adquiriu com o seu pai, Téon de Alexandria, um renomado matemático, filósofo, astrônomo e professor, o gosto pelas artes e pelas ciências, ademais de ter desenvolvido profunda paixão por respostas científicas para esclarecer lacunas existentes no conhecimento da época.

Hipátia de Alexandria submetia-se a uma rigorosa disciplina física para alcançar o ideal helênico mens sana in corpore sano (mente sã em corpo são). Possuía espírito dinâmico, mente altamente inquieta, oratória e retórica excepcionais. Foi uma mulher muito à frente do seu tempo: condenou veementemente o “confinamento” das mulheres ao espaço doméstico, foi professora de matemática, filosofia e astronomia.

Apesar da beleza singular, com enorme quantidade de pretendentes, Hipátia de Alexandria preferiu dedicar-se aos estudos e ao trabalho: tratava-se de uma mulher feminista e independente. Quando lhe indagavam por que jamais se casara, Hipátia de Alexandria respondia de forma irônica que já era casada com a verdade, desde sempre.

Ainda adolescente Hipátia de Alexandria viajou à Atenas para completar a educação na Academia Neoplatônica, destacando-se pelos esforços para unificar a matemática de Diofanto ao neoplatonismo de Amônio Sacas e Plotino, com o objetivo de aplicar o raciocínio matemático ao conceito neoplatônico do Uno (mônada das mônadas). 

Ao retornar ao Egito, converteu-se em professora na Academia de Alexandria, onde fizera a maior parte dos estudos, ocupando a cadeira que fora de Plotino. Aos 30 anos converteu-se em Diretora da Academia de Alexandria, sendo muitas as obras que escreveu nesse período, dentre os quais tratados sobre a álgebra de Diofanto, além de comentários sobre os matemáticos clássicos, incluindo Ptolomeu e Euclides, este último, em parceria com seu pai, Téon de Alexandria.

Um dos seus mais notáveis alunos foi Sinésio de Cirene (370-413), bispo e filósofo, que lhe escrevia frequentemente, pedindo-lhe conselhos. Através das informações contidas nestas cartas, sabe-se que Hipátia de Alexandria aprimorou o funcionamento de instrumentos usados na Física e na Astronomia, dentre os quais o hidrômetro e o astrolábio.

Hipátia de Alexandria ficou famosa por possuir uma mente brilhante, preparadíssima para solucionar problemas. Os matemáticos da época, confusos e intrigados com problemas, escreviam-lhe solicitando soluções, nas quais ela raramente os desapontava. Ela era obcecada pelo processo de demonstração lógica das soluções aos problemas que lhe eram apresentados.

Na época, a cidade de Alexandria era governada pelo Império Romano e Hipátia de Alexandria tinha proximidade com Orestes, o Governador Romano do Egito. Entretanto, a região passava por intensas e profundas transformações oriundas da expansão do poder da Igreja Católica e dos intentos de eliminar a influência e a cultura pagãs. No Egito, o representante-mor desse movimento foi Cirilo, o Bispo de Alexandria. Os cristãos do Egito, seguidores de Cirilo, tinham um histórico de conflitos contra os judeus, pagãos e autoridades egípcias, inclusive quase vitimando Orestes.

Cirilo tinha grande desprezo por Hipátia de Alexandria, pois, além dos motivos políticos, ele a considerava um símbolo do paganismo, por sua dedicação ao trabalho e à Ciência. O local de trabalho de Hipátia de Alexandria, a Biblioteca de Alexandria, maior fonte do conhecimento humano da época, era considerada pela Igreja Católica como um templo do paganismo. Este aspecto incomodava muito a Cirilo, pois, consoante o historiador Sócrates de Constantinopla, Cirilo acreditava que Hipátia de Alexandria estava competindo com o cristianismo.

Este cenário caracterizava a Alexandria do início do Século V como uma urbe sob intensa ebulição política, religiosa e social, uma espécie de “panela de pressão”, que, por volta de 415 d. C. começou a estourar.

Na tarde de 8 de março daquele ano, quando voltava do Museu de Alexandria, Hipátia de Alexandria foi atacada, arrancada de sua carruagem por uma multidão de cristãos enfurecidos e arrastada pelas ruas da cidade até uma igreja, onde foi violentada, teve suas roupas rasgadas e sua carne arrancada dos ossos por conchas afiadas. Depois de morta, seu corpo despedaçado foi queimado fora dos limites da cidade e todos os seus trabalhos foram destruídos. Pesquisas recentes asseveram que o homicídio de Hipátia de Alexandria resultou do conflito entre duas facções cristãs: uma mais moderada, ao lado de Orestes, e outra mais rígida, seguidora de Cirilo, responsável pelo ataque. Não obstante, os assassinos jamais responderam por esse bárbaro crime.

Para os simpatizantes da Sétima Arte, aconselhamos assistir o filme espanhol Alexandria (título original Ágora), dirigido por Alejandro Amenábar e lançado em 2009, que se inspirou na vida de Hipátia de Alexandria. Trata-se de película laureada com Prêmios Goya em sete categorias: Melhor Roteiro Original, Melhor Direção Artística, Melhores Efeitos Especiais, Melhor Figurino, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Produção e Melhor Maquiagem e Cabelo.

Convém salientar que em 1977, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, como uma forma de render homenagem à Hipátia de Alexandria e à luta das mulheres pelas igualdades de direitos e condições de trabalho.

Para finalizar, convidamos aos interessados nas temáticas abordadas nos artigos componentes do Volume 11 de 2024 da Revista Eletrônica Acta Sapientia a desfrutarem da leitura dos respectivos textos.

Fortaleza, 02/01/2024

Prof. Wagner Bandeira Andriola, PhD
Editor-Chefe

Profa. Adriana Castro Araújo, Dra.
Prof. Albano Oliveira Nunes, Dr.
Editores Associados

Publicado: 03/01/2024